quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Poemas dedicados ao Deus menino

HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação. 
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.


 
Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981

2 comentários:

  1. Bom dia Horácio!
    Vou pedir-lhe um favor:aumente a letra do poema!
    Nem eu que uso óculos consigo ler bem.
    Até amanhã
    Beijinhos
    Alcinda

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  2. Horácio,
    Lindo poema este de Miguel Torga.
    Parabéns pela escolha.
    Parabéns pelo Blog.
    Só hoje consegui ter acesso, já li os diferentes textos aqui publicados e gostei.
    Votos de um Santo e feliz Natal para si e para toda a família.
    Albertina Granja

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